Millena Barbosa Silva[1]
PALAVRAS-CHAVES: capitalismo capilar – identidade – cabelo – mulheres negras – ativismo
O presente trabalho pretende discutir a visão da ‘‘parecer ser’’ na sociedade brasileira, onde a mesma negligencia os fios afros baseada em argumentos racistas, ou seja, o entrelaçamento da raça a questão estética. A construção de um Brasil, embranquecido e sendo estimulado durante o século XVIII em eliminar da sociedade negros, principalmente mulheres negras, na contemporaneidade estas tentativas não são diferentes. Por outro lado, as dificuldades nascem como uma possibilidade ao empoderando destas mulheres em buscar o caráter de identidade social, individual e política em relação aos seus fios. Cabendo ressaltar, o objetivo ao decorrer do ensaio visando compreender a seguinte questão: Por que os fios originalmente crespos causam tanto incomodo em nosso meio social? Antes de mais nada, cabe sublinhar as linhas históricas sobre estes processos de discriminação apresentados na contemporaneidade. De certo, as relações de divisões sociais estabelecidas no Brasil Colonial, pretendiam colocar cada grupo (eclesiástico, nobre e servos) em seu devido lugar. Podemos contribuir este fator como umas das conotações negativas herdadas deste período. Durante o século XVIII, a aparência era um quesito importante a fim de ser identificado na sociedade, pois quanto mais você ostentava em roupas, adornos e até mesmo com maior fosse o número de cortejos por escravas, por exercício destas atividades demostrava o seu poder e status social. (SILVA, LARA, 2007) Podemos acrescentar também, a realidade do tráfico negreiro, pois o mesmo embaralhou todas as diferenças (intertribais) percebidas pelos africanos e, com isto igualizou todos os negros, em virtude da escravidão e da cor, isto é, houve uma diferença entre negros e brancos na realidade brasileira pós colonial e passou a constituir-se no modo social e político. (BARROS, JOSÉ, 2014) Em resumo, mesmo após a destituição da escravidão, observamos marcas enraizadas deste período no cenário social atual. Entretanto, quando afirmo que o cabelo tem caráter social, individual e político é referente ao seu uso como sistema de linguagem e pertencimento. Se linguagem expressa qualquer meio sistemático de comunicação de ideias ou sentimentos através de signos convencionais, por sua vez, pertencimento expressa a necessidade de se encaixar a uma determinada cultura, com o objetivo de fortalecimento e resistência sobre futuras influências externas. Por exemplo, no caso dos povos africanos quando saiam de seu território de nascença para outros países, a fim de ser escravizados o cabelo significava um sistema de linguagem religioso, geográfico e de status sociais (QUINTÃO, ADRIANA,2013). Contudo, os movimentos sociais com a inserção da internet arrecadaram especialmente para as mulheres negras este sentimento de pertencimento a uma cultura com traços em comum, sobre esta afirmativa podemos compreender como identidade social, pessoal e política se entrelaçam com a linguagem. Além disto, como a manifestação destes conceitos vem sendo desafiadores para afirmativa do cabelo naturalmente crespos. É justamente, na aparição volumosa desta atividade[2] que surge os incômodos. Primeiro, a ação política sobre o ativismo natural é a referência sobre as críticas dos processos da ditadura da beleza (QUINTÃO, ADRIANA,2013), por conseguinte, o processo dos fios originalmente naturais, arrecadou um outro processo de luta Ditadura do Cacho Perfeito[3], onde as mulheres de traços predominantes negroides são vistas e encaradas como cabelos de ‘’ palha de aço’’, ‘’ruim’’, ‘’Bombril’’, etc. No entanto, as que apresentam traços mais finos[4], não sofrem o mesmo. Isso gerou, as atuais lutas por mulheres negras, um constante debate e reafirmação dos traços crespos, em que constante são bombardeadas por empresas capilares ‘’ afro’’ a mudarem este processo. Portanto, concluímos duas linhas de pensamentos neste breve ensaio. A primeira, os processos de escravidão trouxeram diferenças não somente no cenário político e econômico, mas principalmente na aparência, onde gerou marcas na sociedade brasileira contemporânea. A segunda, a luta pela ditadura da beleza, não alcançou a todas as mulheres, principalmente as mulheres negras, onde empresas se aproveitarem do instigar, da procura dos fios naturais, ainda mantendo-os presas dentro de um sistema de conformidade com a sociedade. Retornando a pergunta inicial lançada, as acomodações existem, pois ainda somos uma sociedade estruturalmente racista e ao invés de debatermos abertamente estas questões, preferimos criar situações fáceis de resolve-la, como exemplo, recorrer aos procedimentos estéticos ou apenas silenciar o sinal de pertencimento afro com os fios crespos, ou seja, a maior sinal de luta contra este tipo de pensamentos e a armações dos fios. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA BARROS, José D’Assunção – A construção social da cor: diferenças e desigualdades na formação da sociedade brasileira. Editora Vozes. 2009
QUINTÃO, Adriana Maria Penna. O que ela tem na cabeça? Um estudo sobre o cabelo como performance identitária. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de Antropologia. 2013.
LARA, Silvia Hunold. Fragmentos setecentistas. Escravidão, cultura e poder na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras. 2007.
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[1] Graduanda do curso de licenciatura em História, UFRRJ/IM. E-mail: millena18barbosa@gmail.com [2] Existem nomenclaturas dos fios capilares, numeração de 1 a 4. Dentro desta numeração há sub variações variadas entre a, b, c, d. Exemplo, o fio 4c significa mais fechado e sem formação de cachos, ou seja, crespo. [3] Referências a prática de BIGCHOP- Corte total do cabelo natural alterado por produtos químicos. [4] Cachos modelados e abertos.
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