Hoje 19 de agosto, é dia do historiador, data instituída por meio da Lei nº 12.130/2009, em homenagem ao nascimento do diplomata e escritor pernambucano Joaquim Nabuco (1849-1910). Diversos estudiosos buscaram escrever sobre a história e a sua produção, dessa forma, é fundamental compreender qual o papel do historiador perante a sociedade.
“'Ciência dos homens', dissemos. É ainda vago demais. É preciso acrescentar: 'dos homens no tempo'. O historiador não apenas pensa “humano". A atmosfera em que seu pensamento respira naturalmente é a categoria da duração." (BLOCH, 2001, p.55).
Inicio esse breve artigo com a citação do renomado historiador francês, fundador da Escola dos Annales, Marc Bloch (1886-1944). Este é um dos primeiros estudiosos do tema que se debruçaram a estudar a produção do pensamento historiográfico, para ele era fundamental, antes de buscar rotular um determinado período histórico, compreender a realidade concreta, sendo o homem produto do seu próprio tempo e suas narrativas decorrentes das suas relações e singularidades.
Nesse sentido, a História deve ser compreendida como uma ciência, ou seja, objeto de estudo dotado de método. Reconhecendo assim quais são os seus respectivos instrumentos de análises e o seu contexto. Em sua obra Apologia da história, publicada pela primeira vez em 1949 por Lucien Febvre, Marc Bloch busca apresentar a afirmativa de que a História é uma ciência que estuda a ação do ser humano no tempo, sendo assim, não se limita apenas em entender acontecimentos e personalidades que se destacaram em determinado momento da história mas também tornar a história mais ampla e humana.
Sendo assim, Bloch vai ampliar a discussão em torno das fontes e do método utilizado por seus pares. Essa discussão é a responsável por hoje, na atualidade, estudiosos do tema estarem em constante debate sobre a necessidade de aprimorar os mecanismos de estudo, como a incorporação de novas fontes que visam revisitar acontecimentos históricos a partir de uma outra abordagem, ou também, a formulação de outras perguntas diante de fontes já estudadas no passado.
Quando se discute fonte histórica, abordamos aqui não só documentos oficiais pautados pelas grandes datas e grandes acontecimentos mas também a história oral. A qual nos permite hoje, compreender o passado através de outras narrativas, as quais buscam trazer a público homens e mulheres que não ocupavam lugares de prestígio na sociedade mas que foram agentes transformadores do seu próprio tempo.
Nesse sentido, busco aqui trazer outro estudioso da História, Pierre Nora, historiador francês que assim como Marc Bloch, buscou elaborar questões sobre o ofício do historiador. Um dos conceitos estudados por Nora, é a memória, segundo o mesmo, enquanto a história é a reconstrução problemática e incompleta do que não existe mais, a memória, se torna um fenômeno atual, nas suas palavras: um elo vivido no eterno presente; a história uma representação do passado. A memória é móvel, se molda ao nosso próprio tempo, sendo presente em monumentos, ruas e cidades, então nomeados lugares de memória.
Estes lugares nascem e vivem nos sentimentos, sendo assim uma expressão do quanto as pessoas comuns são relevantes para compreender a sociedade e suas relações. Enquanto a memória é plural e individualizada, a história ao mesmo tempo que se pertence a todos, não se pertence a ninguém. Sendo por isso, um objeto de estudo dinâmico e imprevisível.
Recentemente, conquistamos a aprovação do projeto de lei que regulamenta a profissão do historiador, publicado, nesta terça-feira (18), Lei 14.038, de 2020. Após 42 anos de luta, ao longo dos quais nove projetos foram apresentados, atravessando assim diversos períodos da história do nosso país, o movimento estudantil de História, garante esta conquista.
A regulamentação da profissão, foi fruto de muita luta, as entidades que representamos estudantes e historiadores, realizaram uma série de campanhas nas redes sociais, pressionando as e os deputados e senadores para votarem favoráveis ao PL, mesmo após o veto do presidente Jair Bolsonaro ao projeto de lei, o congresso nacional cumpriu com o seu papel e derrubou o veto do presidente na íntegra, demonstrando assim que a regulamentação da profissão é vitória da democracia, e uma derrota para o discurso negacionista do presidente da República e seus aliados.
Comemorar o dia do historiador, é valorizar a nossa história, memória e identidade, é entender que quem não conhece o seu passado, não entende o seu presente. Como menciona a animação brasileira “Uma História de Amor e Fúria”, produzida por Luiz Bolognesi: ninguém nasce na miséria porque Deus quer. O que vivemos hoje é resultado do que aconteceu no passado. Viver sem conhecer o passado é viver no escuro.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
BLOCH, Marc. “A história, os homens e o tempo”. Apologia da História, ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001, p. 51-68.
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História. São Paulo: PUC-SP. N° 10, p. 12. 1993.
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