TRABALHAR MENOS, TRABALHAR TODOS, PRODUZIR O NECESSÁRIO, REDISTRIBUIR TUDO!
O dia internacional dos trabalhadores tem suas origens na América do norte, a partir de greves e ondas de reivindicações que tinham como principal propósito o combate a longa jornada de trabalho de 13 horas imposta pelo sistema capitalista. Na luta pela redução da jornada para 8 horas, trabalhadores estadunidenses se uniram pelo direito à vida além do trabalho. Ainda hoje, não estamos livres das amarras ideológicas ligadas à produção ilimitada e desumana de lógicas perversas da instrumentalização da vida humana às necessidades do grande capital imperialista, capitalista e anti-povo.
No Brasil, a construção social do trabalho se deu majoritariamente pela mão de diversos povos africanos e indígenas. Em um brutal processo histórico de escravidão, o Império ocidental, representado especialmente pela coroa portuguesa, sequestrou pessoas de África para suprir as demandas do sistema econômico que se desenvolvia. Em brutal repressão, genocídio indígena e regimes de trabalho incessantes, o capitalismo brasileiro tomava forma nas correntes, nas armas brancas, no sangue e nos açoites.
Os diversos povos indígenas que ocupavam o território brasileiro antes das invasões europeias produziam um outro tipo de lógica de trabalho. Na nossa realidade atual, o trabalho é instrumento de repressão, alienação e submissão. Ao trabalhar, e aí não há escapatória, o brasileiro vende sua força de trabalho em troca de salário, que será trocado em mercadoria. A mercadoria se torna o trabalhador. Tal dinâmica se estrutura na mercantilização das necessidades humanas, no apagamento de nossas singularidades culturais, no fomento a uma ideologia autoritária e que massacra a liberdade de vida. Os povos indígenas, nossos irmãos e irmãs, têm muito a nos ensinar sobre o trabalho como forma de subsistência e progresso coletivo. A ideologia do trabalho no capitalismo nos impede de vislumbrar horizontes além da miséria dos povos.
Max Weber, em sua disputada frase “O trabalho dignifica o homem”, trata sobre a condição do labor enquanto pressuposto da dignidade da vida e do progresso do indivíduo. Não podemos aceitar tal narrativa. O trabalho no Brasil não dignifica coisa alguma, não emancipa ser algum. Os trabalhadores brasileiros vivem jornadas exaustivas de trabalho, sem as mínimas condições materiais para a manutenção de sua existência e reprodução de subjetividade, cobertos por uma condição social que afunda suas relações interpessoais, que adoecem suas mentes e calejam seus corpos. O trabalho no Brasil não dignifica ninguém. O trabalho no Brasil mata. O trabalho não dignificará ser algum, corpo algum, vida alguma enquanto sua lógica operante e estruturante se manter no propósito de acumulação de riqueza para grandes empresários, sem responsabilidade com o meio ambiente e sem respeito à vida humana. O trabalhador é digno em sua luta diária, mas o trabalho o maltrata e transfere uma permanente condição de sofrimento.
A população preta e periférica da nossa sociedade é submetida aos maiores abusos, perversidades e crueldades. O cidadão médio brasileiro não tem escolha. Não escolhe com o que trabalha, nem o que come, nem o que veste, nem onde mora - se é que trabalha, se é que come, se é que veste, se é que mora. É um cálculo simples: ou aceitamos a exploração em postos de trabalhos insalubres e que não garantem o mínimo, ou morremos de fome jogados às calçadas e às praças. Nosso presente está condenado à uberização do trabalho: a forma mais avançada de precarização desenvolvida pelo mercado. A classe trabalhadora perde, dia após dia, a garantia de seus direitos mais básicos conquistados com luta histórica e mobilização. Nossa esperança se desintegra com cada avanço neoliberal sobre nossas vidas. Apesar disso, apesar do caos do agora, o futuro ainda é nosso! Nas universidades, os professores e técnicos lutam por um país que respeite o trabalhador, que não aceite que o orçamento público seja jogado no bolso de meia dúzia de bilionários, enquanto o poder de compra é comprometido e reformas nefastas prejudicam a aposentadoria e contratos de trabalho. Nas escolas, o Novo Ensino Médio captura a possibilidade de uma educação libertadora e empurra os filhos e filhas desta nação a uma educação de mercado forjada para nos manter em trabalhos precários. Nós, estudantes de história, não podemos ficar passivos diante da destruição do nosso futuro. A realidade que nos resta ao sair da universidade caminha para a precarização e a falta de oportunidades.
Estudantes, o quão digna é nossa jornada de estudos e trabalho? Mulheres donas de casa, o quão digna é nossa jornada dupla de trabalho doméstico e trabalho remunerado? Pessoas transgênero, qual trabalho nos resta na sociedade brasileira? Trabalhador, trabalhadora e trabalhadore, onde iremos parar? Não devemos ficar quietos, silenciados à espera de uma transformação, à espera de mais dignidade e melhores condições. Devemos exigir, demandar e lutar contra o sistema por nossos direitos. O capitalismo é um sistema de permanente repressão e nossa emancipação só é possível através da luta. E há de haver luta! Até o último suspiro, o último choro e o último grito, há de haver luta!
BASTA DE EXPLORAÇÃO! BASTA DE MISÉRIA! TRABALHADORES DO MUNDO, UNI-VOS!
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